Nos últimos anos, o fenômeno das plataformas de aluguel de acomodações por temporada criou um novo tipo de viajante. Ou melhor, redesenhou um viajante que estava mais preocupado em viver como um local, do que ser aquele clássico turista. Ofereceu preços muito mais baixos do que a média dos hotéis, sacrificando eventualmente o conforto, a segurança ou os serviços clássicos de hotelaria.

Assim como os táxis, correios e música, essa indústria também foi chacoalhada pela tecnologia. Mas note que ela não foi substituída. Nem mesmo a música: os discos de vinil encontraram seu nicho, seu público. Pequeno, mas fiel. Até as máquinas fotográficas de filmes descobriram um lugar para existir. O que prova que a morte de um não é condição para o nascimento do outro.

A partir daí ficaram claras as mudanças de hábito, questionamentos, revisões de preço, mudanças de categorias. Aliás, é preciso redefinir o que é o sistema de estrelas, e se ele ainda faz sentido. Porque os hóspedes, ou os viajantes, ou mais diretamente, as pessoas se comportam de maneiras diferentes. O mesmo CPF é high-tech e lo-fi. Compra luxo e lixo. Simples, barato, industrial. Alta costura, fora-de-série e sob medida. Ninguém quer uma coisa só. O que vale é a experiência.

Veja por exemplo o executivo que voa acumulando milhas e pagando tarifas cheias. Fica em hotéis corporativos com localização e serviços de acordo com a agenda programada para aquele período de trabalho. Sim, ainda existe esse modelo. Bem menos, mas existe.

De outro lado, a pandemia deu definitivamente à luz ao trabalho remoto, não só possível como muitas vezes melhor em termos de custo, tanto para quem paga como para quem recebe. E nesse caso, o modelo das plataformas de aluguel de acomodações é uma possibilidade, mas não é exatamente a única. O aluguel por períodos mais longos e por valores menores já era possível nos impessoais flats ou nos desconfortáveis budget Hotels, seriamente ameaçados.

Concorre nessa categoria o que alguns já chamam de Tech Boutique Hotel. Ou Edited Hotel Experience. Ou Tailor Stay. Digital Hospitality. Não importa o nome. Mas ao não se enquadrar no sistema de estrelas, pode ser percebido até como hotel de luxo pela localização, qualidade dos materiais, pelo design, conjunto de ofertas e serviços, e principalmente pelo uso obrigatório de tecnologia. Aqui, a customização, curadoria, inteligência artificial e o bom uso dos dados cumprem o importante papel de oferecer uma solução perfeita para esse público.

Parece lógico que mochileiros continuem ocupando hostels, albergues, bed and breakfasts e ao mesmo tempo famílias prefiram resorts e cruzeiros. Mas no mundo todo esse novo desenho de público ligeiramente mais jovem, mais dinâmico, urbano e que aprendeu a misturar trabalho, viagem e turismo, está atualizando o conceito do tal lifestyle contemporâneo. Trabalho corre paralelo à gastronomia, imersão cultural, bem estar e vida social. Paralelos mas juntos. Um viabilizando o outro.

Nessa categoria há pouquíssima oferta. Parece uma solução desenhada pelo usuário, mais do que uma ideia. De baixo pra cima. Quem enxergou isso foram hotéis menores, mais charmosos e bem sucedidos na personalização da estadia. Era preciso apenas aplicar tecnologia ao conhecimento e talento de sempre, e v3rso é exatamente isso, por definição desde sua concepção. E outros modelos devem surgir a partir de agora. No mundo já começam a pipocar algumas boas marcas com propostas interessantes e conceitos aparentados. O que fará a diferença não será nem a tecnologia, porque ela já deverá ser natural e disponível como água corrente e eletricidade. A diferença vai estar na qualidade do serviço, na atenção e no detalhe.

E não será nem um robô, nem um aplicativo que vão fazer essa diferença.